O fato de Rubens Figueiredo ter sido contemplado com o Prêmio São Paulo de literatura, na categoria autor consagrado, com o romance Passageiro do fim do dia, já justificaria a leitura de seu livro. Mas o que mais chama atenção é o tom despretensioso que permeia sua obra.
Conhecido por suas traduções impecáveis do russo, Figueiredo desponta neste livro como um autor verdadeiramente promissor. A começar por sua humildade no ato da escrita. Sem pretensões de chegar a lugar nenhum, assim como Pedro, personagem de seu romance, Figueiredo nos leva a uma viagem pela periferia da metrópole, expondo suas feridas como quem nada pede, nos fazendo doer em doses homeopáticas, do mesmo modo como pontua a excursão de Darwin pela América, sem fazer alarde, apenas negociando com o leitor uma intervenção aqui, outra ali, destacando ao final que os mais adaptáveis irão sobreviver.
Nessa negociação com o leitor, Figueiredo nos mostra pela janela dos olhos as tragédias do dia a dia, desde as mais ínfimas, como a brasa do sol queimando impiedosa a fila de passageiros na calçada, o precário equilíbrio da pobreza desprezada dentro do ônibus, até os mais ardilosos riscos de se morar na periferia. Embora sombrio, o autor também nos revela, sem resvalar um segundo sequer na pieguice, a solidariedade não-premeditada, singela mesmo, aquela que nasce como seus escritos nos parecem: naturais e fruto do talento dos melhores homens.
A história de Pedro, dono de um sebo de livros, que embarca no mesmo ônibus às sextas-feiras, rumo ao bairro do Tirol para encontrar sua namorada, é o microcosmo que espelha a dor de viver num país de injustiças. A nossa dor. Vale a pena esse contato. Ao menos, nos relembra que somos humanos.
Serviço:
Passageiro do fim do dia
Rubens Figueiredo
Companhia das Letras
Romance brasileiro
197 páginas