Depois que fechei a Rato, percebi
que muitos clientes tiveram pena de mim. E de fato, é uma situação bastante
chata fechar um negócio legal como uma livraria, sobretudo nos moldes da Rato.
Mas com o tempo, se o termo cabe aqui, o processo se inverteu. Visitando outras livrarias, percebendo o quão comerciais elas
se tornaram nos últimos tempos, tantos livros abarrotando as prateleiras e cada
vez menos qualidade por ali, descobri que eles ficaram órfãos. Meus ex-clientes.
Dia desses fui à Cultura com uma
amiga escritora e as decepções foram sucessivas. Ela procurava uma obra,
qualquer obra do escritor João Carrascoza. O funcionário não encontrava
nenhuma, e o motivo era muito simples, ele não conseguia digitar o sobrenome
do autor de forma correta. Com minha ajuda, ele conseguiu encontrar a lista de
livros publicados pelo Carrascoza, mas não havia nenhum em estoque. Partimos
para outro autor nacional, o Julián Fuks, publicado pela Record, uma das
maiores editoras do País. Seu livro Procura
do romance, finalista do Portugal Telecom por aquela ocasião, também não constava
do estoque. Poderíamos encomendar, levaria não sei quantos dias. Ao lado,
pilhas em tons de cinza eram exibidas em meio àquela afobação de pessoas que
circulam e dão o tom às megastores. Infelizmente, nos tempos atuais, muitos vendedores da Cultura
são pouco preparados e conhecedores de literatura. A economia de mercado,
remunerando por baixo profissionais do atendimento, chegou à livraria que já
foi a melhor do Brasil.
Foi nesse dia, nesse momento que
tive certeza. Meus clientes ficaram órfãos de livraria, assim como eu. Fnac,
Saraiva e Nobel sempre foram um desastre, tanto em atendimento como em acervo.
Hoje em dia eu ainda frequento a Martins Fontes da Paulista, que não sabemos
até quando vai durar e aguentar. Havia a HQ Mix, na Roosevelt, levada pelo
simpático casal que conheci tempos depois, mas hoje, após mudanças de endereço,
não sei que fim levou. A Livraria da Esquina acabou virando mais bar que
livraria, mudou-se para a Barra Funda e depois não se sabe mais. A Sobrado,
toda chique em Moema, foi vendida pra Vila, que tomou a decisão de vender
"livros arte" para a classe AA. Mesmo assim, a loja da Vila da Fradique ainda conserva
boas obras em exposição, talvez pelo grande movimento de autores contemporâneos
por lá. Não voltarei ao passado mais longínquo pra falar da Pau Brasil, que aí seria covardia.
Então vamos ao que interessa. Aqui fica a dica para quem
não tem uma livraria de rua com bom atendimento perto de casa. Faça cadastro
numa distribuidora. A maioria delas vende também para pessoa física, basta
apresentar uma documentação simples. As vantagens são muitas: você pede por
email, paga em até 30 ou 60 dias; dependendo do volume da compra e da
distribuidora você recebe em casa sem pagar frete, e a melhor parte da
história, você compra livros com descontos que vão de 30 a 40%.
Grande parte das editoras, eles costumam ter em estoque, e as outras, eles
encomendam. Eu, particularmente, compro sempre na RamaLivros, na Bela Vista, ou na
KMA, que é vizinha da minha casa, vou à pé. Faço uma listinha a cada três meses
com tudo o que quero e pronto. A desvantagem, se podemos falar assim, é que não
há glamour, vitrines, brinquedos para as crianças, nem muita limpeza no chão
simples de cimento, mas para isso temos as megastores, que nada mais são, hoje
em dia, que showroom das grandes editoras, que pagam caro, e bem caro mesmo,
para expor seus "hobbits". Então vale comer um pão-de-queijo, vale o
café, o passeio, o teatro, ver seu autor predileto dando autógrafos, vale uma
paquera, ou levar seu filho pra dentro do dinossauro, e pagar o estacionamento
pra isso. Mas para comprar mesmo, busque outros meios. Uma compra que sairia
cerca de mil reais numa livraria, sai pela metade do preço numa distribuidora,
principalmente se você souber negociar. Mas nada disso vale para o livro
didático, essa é outra máfia para outro post.
Por outro lado, se você for uma
pessoa afortunada e tiver uma livraria de rua perto da sua casa, a dica é: valorize
esse espaço o mais que puder, centralize suas compras lá, não peça desconto
pois um bom atendimento tem preço. Quando compramos algo mais barato em
qualquer outro lugar, estamos perdendo outras coisas que não conseguimos
mensurar de imediato. O livro é uma commodity, mas a indicação do que ler, a
sabedoria e o respeito do bom profissional não são. E o brasileiro, tão afoito
ainda por levar vantagem, fica cego para essas substâncias rarefeitas.
E por fim, se você achar muito
trabalho comprar numa distribuidora, ainda indico realmente a Martins Fontes da
Paulista, é a melhorzinha (e esta semana estava com ótimos títulos com
descontos entre 15% e 40%). Ou a Vila, da Fradique, que passa, com bola na
trave.
Aproveito para elencar mais oportunidades
para comprar com 50% de desconto (mas aí a batalha é outra: distância, corre
corre, multidão, atropelos, calor etc): feira da Usp, último dia da bienal
(algumas editoras), ou ainda promoção da Cultura com a Cosac via internet uma
vez por ano. Ah, e as coleções de banca de jornal, mas aí você tem que avaliar o
tradutor e saber um pouco de encadernação, saber se aquela não vai arrebentar
na primeira lida. Bem, mas se você é louco por livro e chegou até aqui, você
sabe tudo isso, não sabe?
Boas compras e sempre boas
leituras. E se precisar de alguma dica, não se acanhe em perguntar. Meu email está lá em cima pra isso mesmo. Adoro ajudar quem gosta de ler.