Sobre a autora


Paula Fábrio nasceu em 1970. É mestre e doutoranda em Literatura pela Universidade de São Paulo. Desnorteio [Ed. Patuá], seu primeiro romance, foi Vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2013, na categoria estreante. Seu novo livro, Um dia toparei comigo (Foz), é finalista do Prêmio São Paulo de Literatura 2016 e recebeu a bolsa de criação ProAC - Programa de Ação Cultural da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo.


sexta-feira

Dica de livreira para loucos por livros: como comprar títulos com 40% de desconto e outros detalhes importantes na hora de adquirir uma ou muitas obras.


Depois que fechei a Rato, percebi que muitos clientes tiveram pena de mim. E de fato, é uma situação bastante chata fechar um negócio legal como uma livraria, sobretudo nos moldes da Rato. Mas com o tempo, se o termo cabe aqui, o processo se inverteu. Visitando outras livrarias, percebendo o quão comerciais elas se tornaram nos últimos tempos, tantos livros abarrotando as prateleiras e cada vez menos qualidade por ali, descobri que eles ficaram órfãos. Meus ex-clientes.

Dia desses fui à Cultura com uma amiga escritora e as decepções foram sucessivas. Ela procurava uma obra, qualquer obra do escritor João Carrascoza. O funcionário não encontrava nenhuma, e o motivo era muito simples, ele não conseguia digitar o sobrenome do autor de forma correta. Com minha ajuda, ele conseguiu encontrar a lista de livros publicados pelo Carrascoza, mas não havia nenhum em estoque. Partimos para outro autor nacional, o Julián Fuks, publicado pela Record, uma das maiores editoras do País. Seu livro Procura do romance, finalista do Portugal Telecom por aquela ocasião, também não constava do estoque. Poderíamos encomendar, levaria não sei quantos dias. Ao lado, pilhas em tons de cinza eram exibidas em meio àquela afobação de pessoas que circulam e dão o tom às megastores. Infelizmente, nos tempos atuais, muitos vendedores da Cultura são pouco preparados e conhecedores de literatura. A economia de mercado, remunerando por baixo profissionais do atendimento, chegou à livraria que já foi a melhor do Brasil.

Foi nesse dia, nesse momento que tive certeza. Meus clientes ficaram órfãos de livraria, assim como eu. Fnac, Saraiva e Nobel sempre foram um desastre, tanto em atendimento como em acervo. Hoje em dia eu ainda frequento a Martins Fontes da Paulista, que não sabemos até quando vai durar e aguentar. Havia a HQ Mix, na Roosevelt, levada pelo simpático casal que conheci tempos depois, mas hoje, após mudanças de endereço, não sei que fim levou. A Livraria da Esquina acabou virando mais bar que livraria, mudou-se para a Barra Funda e depois não se sabe mais. A Sobrado, toda chique em Moema, foi vendida pra Vila, que tomou a decisão de vender "livros arte" para a classe AA. Mesmo assim, a loja da Vila da Fradique ainda conserva boas obras em exposição, talvez pelo grande movimento de autores contemporâneos por lá. Não voltarei ao passado mais longínquo pra falar da Pau Brasil, que aí seria covardia.

Então vamos ao que interessa. Aqui fica a dica para quem não tem uma livraria de rua com bom atendimento perto de casa. Faça cadastro numa distribuidora. A maioria delas vende também para pessoa física, basta apresentar uma documentação simples. As vantagens são muitas: você pede por email, paga em até 30 ou 60 dias; dependendo do volume da compra e da distribuidora você recebe em casa sem pagar frete, e a melhor parte da história, você compra livros com descontos que vão de 30 a 40%. Grande parte das editoras, eles costumam ter em estoque, e as outras, eles encomendam. Eu, particularmente, compro sempre na RamaLivros, na Bela Vista, ou na KMA, que é vizinha da minha casa, vou à pé. Faço uma listinha a cada três meses com tudo o que quero e pronto. A desvantagem, se podemos falar assim, é que não há glamour, vitrines, brinquedos para as crianças, nem muita limpeza no chão simples de cimento, mas para isso temos as megastores, que nada mais são, hoje em dia, que showroom das grandes editoras, que pagam caro, e bem caro mesmo, para expor seus "hobbits". Então vale comer um pão-de-queijo, vale o café, o passeio, o teatro, ver seu autor predileto dando autógrafos, vale uma paquera, ou levar seu filho pra dentro do dinossauro, e pagar o estacionamento pra isso. Mas para comprar mesmo, busque outros meios. Uma compra que sairia cerca de mil reais numa livraria, sai pela metade do preço numa distribuidora, principalmente se você souber negociar. Mas nada disso vale para o livro didático, essa é outra máfia para outro post.

Por outro lado, se você for uma pessoa afortunada e tiver uma livraria de rua perto da sua casa, a dica é: valorize esse espaço o mais que puder, centralize suas compras lá, não peça desconto pois um bom atendimento tem preço. Quando compramos algo mais barato em qualquer outro lugar, estamos perdendo outras coisas que não conseguimos mensurar de imediato. O livro é uma commodity, mas a indicação do que ler, a sabedoria e o respeito do bom profissional não são. E o brasileiro, tão afoito ainda por levar vantagem, fica cego para essas substâncias rarefeitas.

E por fim, se você achar muito trabalho comprar numa distribuidora, ainda indico realmente a Martins Fontes da Paulista, é a melhorzinha (e esta semana estava com ótimos títulos com descontos entre 15% e 40%). Ou a Vila, da Fradique, que passa, com bola na trave.

Aproveito para elencar mais oportunidades para comprar com 50% de desconto (mas aí a batalha é outra: distância, corre corre, multidão, atropelos, calor etc): feira da Usp, último dia da bienal (algumas editoras), ou ainda promoção da Cultura com a Cosac via internet uma vez por ano. Ah, e as coleções de banca de jornal, mas aí você tem que avaliar o tradutor e saber um pouco de encadernação, saber se aquela não vai arrebentar na primeira lida. Bem, mas se você é louco por livro e chegou até aqui, você sabe tudo isso, não sabe?

Boas compras e sempre boas leituras. E se precisar de alguma dica, não se acanhe em perguntar. Meu email está lá em cima pra isso mesmo. Adoro ajudar quem gosta de ler.