A trajetória é convencional,
burguesa e até falaciosa, podem falar o que quiserem. Mas foi meu caminho para
Virginia Woolf. Comecei pelo filme. "As horas" é baseado no livro homônimo
de Michael Cunningham, livremente inspirado no romance Mrs Dalloway e na vida da escritora britânica.
Como uma adolescente que descobre
um mundo novo, comprei Mrs. Dalloway
e acabei me interessando por sua obra completa. Ainda ansiosa, busquei sua biografia. O caminho é quase sempre esse,
convencional, burguês e beirando a falácia. Falácia de querer compreender o
outro.
Foi assim que peguei um atalho. Numa
livraria em Barcelona, ele esperava por mim. Meu exemplar de La muerte de Virginia. O autor? Ninguém
menos que Leonard Woolf.
Li as primeiras cem páginas, que
correspondem ao capítulo em que Leonard trata da morte de Virginia, sua esposa.
Recomendo o livro até aqui. Por quê? Porque é histórico, revela todas as
traições poéticas cometidas pelo filme, apresenta a consciência política do
autor - rara e importante para os tempos atuais e de sempre -, traz um pouco
dos diários de Virginia (preciso comprar!) e da relação dela com Leonard, que
era seu editor. Imperdível. Só pra dar uma palhinha, no filme a editora ou pelo
menos parte dela ficava na casa dos Woolf, no campo. Nada disso, a editora foi
bombardeada em Londres e o que restou foi trasladado para outra casa editorial.
Para quem ficou com água na boca, é possível comprar o livro pela internet e se deliciar com a vida quotidiana durante o Entre-guerras, narrada com justeza por Leonard, que não se sai como um escritor de talento, tampouco esta era sua ambição, mas que cumpriu sua tarefa com honestidade.
Para quem ficou com água na boca, é possível comprar o livro pela internet e se deliciar com a vida quotidiana durante o Entre-guerras, narrada com justeza por Leonard, que não se sai como um escritor de talento, tampouco esta era sua ambição, mas que cumpriu sua tarefa com honestidade.
Não obstante, após o capítulo
famigerado, o livro passa a valer a pena principalmente para estudiosos do grupo de
Bloomsbury, editores e profissionais do livro. Acontece que Leonard começa a
contar, até com certa afetação, a história de sua empresa, os escritores
publicados, e a coisa parece degringolar para uma grande lista de nomes.
Depois, não sei, porque não li. Mas a prateleira e a gaveta são amigas do
tempo. Então, vejamos. Poderei retomar, com mais benevolência, em outro
momento. Por ora, é de grande valia complementar a informação: esta edição é um
recorte de sua autobiografia, que corresponde ao último volume de um total de
cinco, todos com fundo sociopolítico marcante e, claro, com o pessimismo e o
humor negro de Leonard. Afinal, para ser marido de Virginia, não poderia ser
diferente.
La muerte de Virginia
Leonard Woolf
Biografia
Lumen
216 páginas
Para quem não abre mão de ler no
original, o título é The journey not the
arrival matters e a primeira edição data de 1969.