Sobre a autora


Paula Fábrio nasceu em 1970. É mestre e doutoranda em Literatura pela Universidade de São Paulo. Desnorteio [Ed. Patuá], seu primeiro romance, foi Vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2013, na categoria estreante. Seu novo livro, Um dia toparei comigo (Foz), é finalista do Prêmio São Paulo de Literatura 2016 e recebeu a bolsa de criação ProAC - Programa de Ação Cultural da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo.


sexta-feira

La muerte de Virginia




A trajetória é convencional, burguesa e até falaciosa, podem falar o que quiserem. Mas foi meu caminho para Virginia Woolf. Comecei pelo filme. "As horas" é baseado no livro homônimo de Michael Cunningham, livremente inspirado no romance Mrs Dalloway e na vida da escritora britânica.

Como uma adolescente que descobre um mundo novo, comprei Mrs. Dalloway e acabei me interessando por sua obra completa. Ainda ansiosa, busquei sua biografia. O caminho é quase sempre esse, convencional, burguês e beirando a falácia. Falácia de querer compreender o outro.

Foi assim que peguei um atalho. Numa livraria em Barcelona, ele esperava por mim. Meu exemplar de La muerte de Virginia. O autor? Ninguém menos que Leonard Woolf.

Li as primeiras cem páginas, que correspondem ao capítulo em que Leonard trata da morte de Virginia, sua esposa. Recomendo o livro até aqui. Por quê? Porque é histórico, revela todas as traições poéticas cometidas pelo filme, apresenta a consciência política do autor - rara e importante para os tempos atuais e de sempre -, traz um pouco dos diários de Virginia (preciso comprar!) e da relação dela com Leonard, que era seu editor. Imperdível. Só pra dar uma palhinha, no filme a editora ou pelo menos parte dela ficava na casa dos Woolf, no campo. Nada disso, a editora foi bombardeada em Londres e o que restou foi trasladado para outra casa editorial.

Para quem ficou com água na boca, é possível comprar o livro pela internet e se deliciar com a vida quotidiana durante o Entre-guerras, narrada com justeza por Leonard, que não se sai como um escritor de talento, tampouco esta era sua ambição, mas que cumpriu sua tarefa com honestidade.

Não obstante, após o capítulo famigerado, o livro passa a valer a pena principalmente para estudiosos do grupo de Bloomsbury, editores e profissionais do livro. Acontece que Leonard começa a contar, até com certa afetação, a história de sua empresa, os escritores publicados, e a coisa parece degringolar para uma grande lista de nomes. Depois, não sei, porque não li. Mas a prateleira e a gaveta são amigas do tempo. Então, vejamos. Poderei retomar, com mais benevolência, em outro momento. Por ora, é de grande valia complementar a informação: esta edição é um recorte de sua autobiografia, que corresponde ao último volume de um total de cinco, todos com fundo sociopolítico marcante e, claro, com o pessimismo e o humor negro de Leonard. Afinal, para ser marido de Virginia, não poderia ser diferente.

La muerte de Virginia

Leonard Woolf

Biografia

Lumen

216 páginas

Para quem não abre mão de ler no original, o título é The journey not the arrival matters e a primeira edição data de 1969.