Sobre
a literatura brasileira contemporânea, tenho gostos e desgostos. Entre os
gostos, destaco quem tem a seriedade nas mãos. Folheando a revista Celuzlose,
parceria da Dobra com a Patuá, minha futura editora, fui agraciada com a
leitura do enxutíssimo conto de Adriano de Almeida, que estreia na cena literária
nacional com ares de quem vem para ficar.
Talvez
haja uma espécie de identificação quanto às preocupações que nos movem ao ato
de escrever. Pelo título do seu texto, "Entulhos", e o que escolhi
para o meu romance, Desnorteio, é
possível demarcar a labuta por desvendar a vida e interrogar seus absurdos.
No
conto de Adriano, um professor passa os dias acumulando "despojos dejetos
desejos entulhos. Tudo o que o tempo devolve, espumando imundas ondas",
tentando escrever uma linha que seja de seu livro, envolto a pesadelos e à
opressão de São Paulo. Malha que nos enreda na cidade e nos aproxima. E que
também abriga o Nordeste, suas durezas e até mesmo Graciliano bicando nosso
fígado. Caminho tortuoso, esse da escrita. Mas que afinal nos chega com "pedra
sobre pedra", e nos faz leitores melhores que ontem.
Além
de Adriano, que rogamos logo venha seu primeiro livro, a publicação traz
autores já conhecidos e outros ainda debruçados nos inícios de seus versos e
prosas. Vou citar alguns talentos, sob a pena trágica da injustiça de deixar gente boa de fora, como Elisa Andrade
Buzzo e Lilian Aquino. E para avançar um pouco mais, agora no terreno da
teoria literária, Celuzlose também investe num excelente caderno
crítico, com ensaios sobre Drummond, Mário de Andrade, além da seção Bio Vida
& Obra, que nesta edição apresenta um breve panorama sobre Augusto dos Anjos,
com alguns de seus poemas pontuando os acontecimentos de sua vida, num estudo direcionado pelos olhos cuidadosos do escritor e pesquisador Del Candeias.
Mais
não digo, com receio de tornar este post menos enxuto e revelador que o conto
de Adriano de Almeida e de retirar a surpresa dos olhos de quem ler a revista.
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