Pudera,
com um título desse, fui metendo a cara aos poucos. João Antônio, eu já
conhecia, desde a Antologia de Contos
Brasileiros, uma iniciativa da Ediouro, lá pelos idos de 2000 - a raspa de
tacho dos bons tempos editoriais. A edição carregava um espírito didático. E eu
já estava velhinha para esse tipo de leitura. Mas havia gana de conhecer autores,
caso do João Antônio, e assim, com uma antologia que também apresentava textos
de Ribeiro Couto, J. Simões Lopes Neto, Aníbal Machado e outros que eu
desconhecia por completo, era possível com pouco dinheiro levar uma pitada de
cada um.
Afinação da arte de chutar tampinhas foi
meu primeiro passo. Ainda não tinha me apaixonado. Mas só por ali já dava pra
respeitar o sujeito. A loucura começou mesmo na época em que eu arrumava as
estantes da livraria, tendo às mãos as edições primorosas da Cosac Naify. Malagueta, Perus e Bacanaço tem prefácio
do Antonio Candido (acho que poderia encerrar o post por aqui, mas a gente
gosta de estragar as coisas, afinal) e um caderninho preparado pelo Rodrigo
Lacerda acerca da vida e obra do autor, além de trazer um bônus para os fãs:
uma das versões anteriores do conto que dá título ao livro.
Mas
chega de enrolação. Vamos ao cerne da literatura. O livro já naquela época,
1963, tratava dos indivíduos marginais da sociedade paulistana, são eles os
protagonistas das histórias, que estão subdivididas em três grupos, os contos
gerais, os de caserna e os de sinuca. Neste último grupo, na minha tosca
opinião, estão os melhores, mais contundentes, onde a linguagem se solta de vez
e João Antônio mostra a que veio ao mundo. A construção das personagens é ao
mesmo tempo imagética e profunda, é pura filosofia, são os labirintos dessa
vida comandada pelos ricos, e, às vezes, pelos que têm um tostão a mais que os outros, ou alguma ginga.
Esses
tais labirintos estão bem representados aqui, neste contos urbanos em que o
narrador não nos conta sobre o exótico, pois o autor está integrado na história, o
que é descrito faz parte de sua vida, da nossa vida, basta olhar pela janela do
carro, tomar um trem de subúrbio, andar a pé pelo centro. Passear pelos textos é
seguir pelos bairros onde João Antônio perambulava, como a Lapa, Pinheiros,
Jaguaré, e o centrão com sua noite esfarrapada, o frio latente, o joguinho, o
medo, e até o lirismo da aurora, essa efeméride que não nos permite concluir,
apenas vislumbrar.
Não
vou falar mais não. Compra lá, leva pra casa; o sofá e a chuva fazem o resto.
Serviço
Malagueta, Perus e Bacanaço
João Antônio
Cosac Naify