Sobre a autora


Paula Fábrio nasceu em 1970. É mestre e doutoranda em Literatura pela Universidade de São Paulo. Desnorteio [Ed. Patuá], seu primeiro romance, foi Vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2013, na categoria estreante. Seu novo livro, Um dia toparei comigo (Foz), é finalista do Prêmio São Paulo de Literatura 2016 e recebeu a bolsa de criação ProAC - Programa de Ação Cultural da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo.


sexta-feira

Malagueta, Perus e Bacanaço.




                Pudera, com um título desse, fui metendo a cara aos poucos. João Antônio, eu já conhecia, desde a Antologia de Contos Brasileiros, uma iniciativa da Ediouro, lá pelos idos de 2000 - a raspa de tacho dos bons tempos editoriais. A edição carregava um espírito didático. E eu já estava velhinha para esse tipo de leitura. Mas havia gana de conhecer autores, caso do João Antônio, e assim, com uma antologia que também apresentava textos de Ribeiro Couto, J. Simões Lopes Neto, Aníbal Machado e outros que eu desconhecia por completo, era possível com pouco dinheiro levar uma pitada de cada um.

                Afinação da arte de chutar tampinhas foi meu primeiro passo. Ainda não tinha me apaixonado. Mas só por ali já dava pra respeitar o sujeito. A loucura começou mesmo na época em que eu arrumava as estantes da livraria, tendo às mãos as edições primorosas da Cosac Naify. Malagueta, Perus e Bacanaço tem prefácio do Antonio Candido (acho que poderia encerrar o post por aqui, mas a gente gosta de estragar as coisas, afinal) e um caderninho preparado pelo Rodrigo Lacerda acerca da vida e obra do autor, além de trazer um bônus para os fãs: uma das versões anteriores do conto que dá título ao livro.

                Mas chega de enrolação. Vamos ao cerne da literatura. O livro já naquela época, 1963, tratava dos indivíduos marginais da sociedade paulistana, são eles os protagonistas das histórias, que estão subdivididas em três grupos, os contos gerais, os de caserna e os de sinuca. Neste último grupo, na minha tosca opinião, estão os melhores, mais contundentes, onde a linguagem se solta de vez e João Antônio mostra a que veio ao mundo. A construção das personagens é ao mesmo tempo imagética e profunda, é pura filosofia, são os labirintos dessa vida comandada pelos ricos, e, às vezes, pelos que têm um tostão a mais que os outros, ou alguma ginga.

                Esses tais labirintos estão bem representados aqui, neste contos urbanos em que o narrador não nos conta sobre o exótico, pois o autor está integrado na história, o que é descrito faz parte de sua vida, da nossa vida, basta olhar pela janela do carro, tomar um trem de subúrbio, andar a pé pelo centro. Passear pelos textos é seguir pelos bairros onde João Antônio perambulava, como a Lapa, Pinheiros, Jaguaré, e o centrão com sua noite esfarrapada, o frio latente, o joguinho, o medo, e até o lirismo da aurora, essa efeméride que não nos permite concluir, apenas vislumbrar.

                Não vou falar mais não. Compra lá, leva pra casa; o sofá e a chuva fazem o resto.



Serviço
Malagueta, Perus e Bacanaço

João Antônio
Cosac Naify

222 páginas