Julio
Ramón Ribeyro é o escritor que eu gostaria de ser. Devido à carência de
publicações suas no Brasil, acabei por buscá-lo em outros territórios. Prosas apátridas encontrei numa livraria
comercial em Madri, numa coleção intitulada Biblioteca Breve, da Seix Barral, selo
do grupo Planeta.
O
título incita curiosidade e Julio vai logo explicando numa nota prévia, não são
textos de um sujeito sem pátria, mas pensamentos, aforismos, pequenas histórias
que não se encaixam em nenhum gênero literário ou que não encontraram lugar em meus
livros.
De
primeira mão, acreditei no autor. Mas a cada página, ao entrar na obra, naquele
universo de um escritor peruano morando em Paris, sentindo-se estrangeiro o
tempo todo, acabei por mudar de opinião e passei a desconfiar daquela nota inicial.
Avançando
cada vez mais na leitura e de repente já imersa naquela atmosfera, me deparei
com um Julio também estrangeiro no mundo em que viveu. Estrangeiro perante o outro,
a morte, a velhice, a sua própria incapacidade de compreender a vida. Deixando-me
conduzir mais e mais, confrontei-me com meu próprio deslocamento.
Ah,
esses pequenos textos perturbadores, por vezes tão prazenteiros. Está tudo ali,
pais e filhos, comerciantes franceses, funcionários públicos, juventude e velhice,
livros, livros, sempre os livros. E até as turistas norte-americanas.
Sem
demasiada cerimônia, sobre as turistas americanas há um texto que me atrevo a
reproduzir. Pelo menos um pouco de riso para esta manhã tão cinza em São Paulo:
"Las turistas norteamericanas del ómnibus: viejas y arrugadas. Pero
arrugadas de una manera diferente a como se arrugan las mujeres por otras
latitudes. Se habían arrugado en el confort y la bonanza. Los surcos de su cara
eran el fruto de gestos placenteros, jubilosos y hartos, repetidos hasta el
infinito, hasta haberles impreso la máscara de una vejez sin grandeza, la vejez
de la satisfacción."
Creio
que não sobrou espaço para dizer mais nada.
Serviço
Prosas apátridas
Julio Ramón Ribeyro
Seix Barral
140 páginas
Acredito que à venda nas melhores
casas do ramo pela internet, ou numa esticadinha em Buenos Aires, paraíso das
livrarias. Ou mandando importar por essas casas brasileiras que estão cada dia
piores e mais comerciais, onde só entro porque gosto muito de livro, ao mesmo
tempo sentindo pena dos meus ex-clientes, aqueles especiais, que compartilham
da minha visão de mundo.