Sobre a autora


Paula Fábrio nasceu em 1970. É mestre e doutoranda em Literatura pela Universidade de São Paulo. Desnorteio [Ed. Patuá], seu primeiro romance, foi Vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2013, na categoria estreante. Seu novo livro, Um dia toparei comigo (Foz), é finalista do Prêmio São Paulo de Literatura 2016 e recebeu a bolsa de criação ProAC - Programa de Ação Cultural da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo.


sexta-feira

Fazes-me falta

Fazia tempo que eu não dava chance para um autor contemporâneo na minha estante. Tenho vários deles dispostos nas prateleiras, inclusive na língua portuguesa, como o próprio Lobo Antunes, o Mia Couto e uma série de brasileiros talentosos, que eu não vou começar a citar pra não ser injusta. Sempre concedo meu tempo em favor dos mortos, é mais fácil, o público e a crítica nos deixaram rótulos prontos e a tentação de seguir pelo caminho conhecido é sempre maior. Mas Inês foi a boa surpresa do ano. A oportunidade de lê-la surgiu da composição de um artigo para uma revista literária acadêmica. Comecei a leitura com a seriedade que a labuta exige, mas a lírica amorosa da autora impressiona tanto, que não resisti e cedi, sim, deixei-me ser levada por aquela história de amor até o fim. E o melhor está no meio do caminho: história, sociologia e política de Portugal, desde antes da revolução dos cravos até a época atual, referências literárias que misturam Graham Greene a Maria Zambrano, e a riqueza de questionamentos sobre a vida e a morte, que nos desviam o olhar, a todo o momento, para nossa condição humana. Uma prosa poética de primeira linha e que toma forma de modo bastante peculiar, utiliza duas vozes narrativas distintas, um homem e uma mulher, com monólogos complementares. O insólito é que a narradora já está morta desde o início do livro. Nenhuma novidade para os leitores de Brás Cubas, mas o recurso é providencial quando se trata de tentarmos dizer tudo o que não pudemos em vida. E, como sempre há um espírito mais crítico de plantão, é bom elucidar, dizem que Inês Pedrosa carrega uma pecha parecida com a de Vinicius, ou como a de Isabel Allende, Garcia Márquez e outros excelentes escritores que são chamados de comerciais. Discordo. Vale a pena lançar um olhar amoroso sobre essa escrita tão rara e agradecer que, a despeito das trevas intelectuais da sociedade de consumo em que vivemos, ainda existam pessoas que esculpem as palavras como Inês Pedrosa.




Serviço:
Fazes-me falta
Inês Pedrosa
Alfaguara
Romance português
2010, 221 pg.

Inês Pedrosa (1962)