Sobre a autora


Paula Fábrio nasceu em 1970. É mestre e doutoranda em Literatura pela Universidade de São Paulo. Desnorteio [Ed. Patuá], seu primeiro romance, foi Vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2013, na categoria estreante. Seu novo livro, Um dia toparei comigo (Foz), é finalista do Prêmio São Paulo de Literatura 2016 e recebeu a bolsa de criação ProAC - Programa de Ação Cultural da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo.


quinta-feira

Anjo negro


Nelson Rodrigues foi o autor que mais me levou ao teatro, perdendo apenas, talvez, para Molière. E não consigo imaginar por que só depois de muitos anos resolvi visitar seu texto em papel. Escolhi Anjo negro, formato pocket. Estava sem dinheiro e ao mesmo tempo ávida por comprar um livro. Tempos de livreira, tempos de rapadura.
E pra começar, não vou discutir aqui se Nelson foi um reacionário ou imoral. Não cabe. Hoje isso é discussão boba, Nelson foi sim um dos maiores dramaturgos brasileiros, por inúmeros motivos, mas sobretudo porque teve a ousadia de escrever sobre a realidade. Então vamos ao que interessa.
O que imediatamente me fez apaixonar pelo texto foi seu caráter insólito. Havia uma dose de fantástico na história que me pegou e que não sai de mim. Sim, é o Nelson Rodrigues de sempre, brutal – racismo, incesto, estupro, infanticídio, tudo aquilo que não podia ser encenado em 1946. E até que a censura não foi das piores (lógico, não se tratava de política nem dinheiro, apenas atrocidades domésticas), a peça pôde estrear dois anos depois. Mas tudo isso carregado por uma atmosfera que beira a loucura, o grotesco, com personagens marcantes e o uso de referências mitológicas muito bem assentadas na sociedade brasileira. Alguma coincidência com a vida como ela é?
Ah, vale conferir: a edição traz um breve roteiro de leitura do Flávio Aguiar, que é bem bacaninha pra ser aplicado em sala de aula.

Serviço:
Anjo negro
Nelson Rodrigues
Nova Fronteira
Teatro brasileiro
2005, 112 p.

Nelson Rodrigues (1912-1980)