Sobre a autora


Paula Fábrio nasceu em 1970. É mestre e doutoranda em Literatura pela Universidade de São Paulo. Desnorteio [Ed. Patuá], seu primeiro romance, foi Vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2013, na categoria estreante. Seu novo livro, Um dia toparei comigo (Foz), é finalista do Prêmio São Paulo de Literatura 2016 e recebeu a bolsa de criação ProAC - Programa de Ação Cultural da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo.


sexta-feira

O veredicto/Na colônia penal

Quando anunciei na coluna ao lado que a próxima dica seria sobre duas novelas não muito badaladas de Kafka, eu havia acabado de chegar de viagem e estava por fora de uma novidade editorial que veio desmentir meu sentimento de originalidade: o lançamento da versão em quadrinhos da novela Na colônia penal, de Franz Kafka.
A história que nunca foi muito discutida em sala de aula nem explorada pelo marketing das outras artes, agora ganha cara “cult” e deve ser “redescoberta” pelo público. Nada mais justo.
Na colônia penal é uma das ficções mais perfeitas de Kafka. A narrativa persuasiva prende do começo ao fim, atordoa e nos faz pensar em como este homem foi capaz de antecipar na sua literatura (o livro é de 1914) as atrocidades do nazismo. Na história, somos apresentados a uma máquina de tortura que inscreve a sentença no corpo do condenado. Quem leu Harry Potter deve se lembrar da releitura muito apropriada de J.K. Rowling. E quem leu Respiração artificial, do argentino Ricardo Piglia, visitou a teoria acerca do possível encontro de Hitler e Kafka. Os livros se conversam e isso fascina qualquer leitor apaixonado.
Também é preciso tirar o chapéu para a Cia das Letras, que vem editando as obras de Kafka com muita eficiência e carinho. A começar pela tradução do professor Modesto Carone, uma das maiores autoridades sobre o autor tcheco no Brasil. Nessa coleção da Cia (estou falando da prosa não dos quadrinhos), com capas que trazem desenhos do artista Amilcar de Castro, o livro número 5, fininho, modesto, com cerca de 80 páginas, era um dos menos notórios, embora traga outra novela de fôlego, O veredicto. Novamente aqui a questão que permeia quase toda obra de Kafka, o pai impositivo e exigente. E vale frisar, o final é contundente, com cenas que falam mais pelo que não dizem. Eu recomendo a aquisição. E se sobrar algum dinheiro, levem o quadrinho, de quebra.

Serviço:
O veredicto/Na colônia penal
Franz Kafka
Cia das Letras
Romance alemão
1998, 88 p.

Franz Kafka (1883-1924)