Sobre a autora


Paula Fábrio nasceu em 1970. É mestre e doutoranda em Literatura pela Universidade de São Paulo. Desnorteio [Ed. Patuá], seu primeiro romance, foi Vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2013, na categoria estreante. Seu novo livro, Um dia toparei comigo (Foz), é finalista do Prêmio São Paulo de Literatura 2016 e recebeu a bolsa de criação ProAC - Programa de Ação Cultural da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo.


domingo

20 contos de Truman Capote

          Quando retirei o livro da estante, a expectativa era bem diferente de quando o devolvi quinze dias depois. Explico.
Sempre que penso em comprar um livro, leio a primeira e também alguma página lá do meio.  Para ter certezas. Mas quando estou com o espírito próprio a conhecer um autor, levo meu exemplar para casa sem longas meditações.
No caso de Truman, escolhi os contos, porque além de ser meu gênero predileto, eu desejava completar a coleção listrada da Companhia das Letras. Caprichos de ex-livreira. A bem da verdade, já havia assistido Bonequinha de luxo, com Audrey, e não estava preparada para enfrentar uma narrativa de não-ficção com fatos tão pesados como aqueles apresentados no genial (eu fui descobrir depois) A sangue frio.  Também não escolhi Música para camaleões, pois sabia que este veio em outra fase, outra maturidade.
Além de todas essas conjecturas, confesso que resolvi ser humilde e começar como o autor começou, pelos contos. Antes de abrir o livro, eu tinha aquela visão do homem que viveu entre celebridades e, ao mesmo tempo, o homem que fez um dos melhores jornalismos literários do século 20. Não esperava, por total falta de cultura da minha parte, histórias sobre a infância de um garoto sulista naqueles anos ainda tão marcados pelo preconceito racial nos Estados Unidos da América; contos que revelam a instabilidade emocional de sua infância, embora regados pelo amor e fascínio que o pequeno Truman nutria pela Srta. Sook (uma prima com idade para ser tia ou avó), pela amizade da cachorra Queenie, e pelas descobertas dolorosas dessa época. O pano de fundo dessas histórias mostra o modo de vida ainda rural e sem as afetações da modernidade de hoje dos americanos: são algumas cidades do então provinciano estado do Alabama, em sua mais pura cor local. Há textos bastante sensíveis (veja bem, não são açucarados, e aqui está seu maior mérito), como o “Memória de Natal”, talvez um dos mais tocantes do livro, com personagens muito bem construídos (recuperados da vida real), que reaparecem em outras histórias. Talvez aí já esteja revelada a semente do jornalismo literário que viria a seguir. Mas muito maior que isso, em todos esses textos você percebe que Truman havia sido predestinado para a literatura. Fora que a tradução é um show à parte. Vale a leitura, cada centavo, cada minuto.

Serviço:
20 contos de Truman Capote
Truman Capote
Companhia das Letras
Contos norte-americanos
2006, 280 p.
No momento deste post, o livro está esgotado no fornecedor; vale procurar em sebos ou aguardar uma nova impressão

Truman Capote (1923-1984)