Imagine 23 biografias reescritas. De Capitão Kid a Empédocles. Agora imagine um prefácio de Jorge Luís Borges. Acrescente o cuidado editorial da 34, uma casa de responsa. Se é possível imaginar tudo isso, mesmo assim você ainda não saberá o que é o livro Vidas imaginárias, de Marcel Schwob. Ali se aprende o poder da descrição, a construção de personagens, as minúcias do humano. E o mais importante, pelo menos na minha opinião: não tem nada de moralizante. Mas sim, recomendo aos leitores mais consumistas certa paciência com as descrições. O livro é do final de 1800. Não sejamos anacrônicos.
E como eu soube de Vidas imaginárias? Não, ele não está empilhado nas livrarias. Após uma série de indicações, de gente seriíssima, peguei o exemplar dia desses, esquecido na minha estante. Foi começar a leitura, para descobrir lacunas da História recobertas pela inventividade desse autor, que parece dono de um saber pra lá de enciclopédico.
Nos tempos de Rato de Livraria, ele passou despercebido. Perdi a chance de indicação e de fazer um extra no caixa. Mas tudo bem. O tempo agora é de redescobertas. De passear pela livraria dos outros. Não, não quero falar mal das livrarias atuais, mas, sem citar o nome da loja, tenho que dizer, semana passada eu andava à procura de um livro simples, do Fernando Pessoa. Não, eles não tinham o exemplar. Também não sugeriram encomendar. E sim, sim, a vendedora não se absteve: "tenho dos heterônimos, como o Aluizio Azevedo, serve?" Tombei e mais não digo, como diria um compadre da literatura.
Esqueci de dizer, o autor é francês, e ainda é possível encontrar o livro por aí, em sebos ou em livrarias que têm estoque antigo, e assim vai.